Por que algumas fintechs oferecem crédito sem consultar o score

Algumas fintechs oferecem crédito sem consultar o score para ampliar o acesso a serviços financeiros a pessoas que, apesar de não terem uma pontuação alta nos birôs de crédito, apresentam bom comportamento financeiro.
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Mas o que exatamente permite essa flexibilização? A resposta está em dados alternativos, tecnologias preditivas e na visão de mercado que valoriza mais o contexto do que um histórico passivo.
Durante muito tempo, a concessão de crédito no Brasil foi baseada em análises engessadas. Um score baixo era sinônimo de porta fechada.
Essa métrica, no entanto, ignora os detalhes por trás de cada histórico financeiro, como o motivo de um atraso ou o período em que ele ocorreu.
Em um país em que mais de 70 milhões de pessoas têm acesso limitado a crédito por causa da pontuação, como mostra levantamento do Instituto Locomotiva, é essencial buscar caminhos mais inteligentes.
Neste artigo, você entenderá como algumas fintechs oferecem crédito sem consultar o score, porque essa estratégia é vantajosa para consumidores e empresas, e quais tecnologias e métricas tornam isso possível, com dados reais e uma abordagem humanizada.
Tecnologia e comportamento: o novo filtro de análise de risco
Ao invés de se apoiarem exclusivamente nos birôs de crédito tradicionais, as fintechs passaram a utilizar ferramentas tecnológicas que permitem uma leitura mais fiel do perfil do consumidor.
Isso inclui acesso a dados de movimentação bancária, constância de renda, recorrência de recebimentos e pagamentos, e até comportamento de consumo em serviços digitais.
Com a regulamentação do Open Finance no Brasil, as startups financeiras podem, com autorização do cliente, analisar dados de diferentes contas bancárias para entender a saúde financeira real do indivíduo.
Essa abordagem amplia a capacidade de identificar bons pagadores que são penalizados por métodos tradicionais.
Por exemplo, um motorista de aplicativo que recebe via Pix quase diariamente pode ter uma renda estável, mesmo que informal.
Embora seu score possa ser baixo, a fintech visualiza fluxo de caixa, volume de transações e regularidade de movimentação bancária.
Esse conjunto de dados reflete mais fidedignamente sua capacidade de pagamento.
Veja também: Cartões de crédito para empreendedores: As melhores opções em 2025
O que motiva essa estratégia?
Não se trata apenas de uma iniciativa social ou inclusiva. As fintechs oferecem crédito sem consultar o score porque isso também é vantajoso do ponto de vista econômico.
Com dados mais completos, o risco de inadimplência diminui.
Segundo a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), startups que adotam critérios alternativos têm registrado até 40% menos inadimplência em relação ao mercado tradicional.
Ou seja, além de ampliar o público, essas empresas otimizam a segurança da carteira de crédito.
Também entra em jogo um fator competitivo. Em um mercado com grandes bancos dominando o crédito, as fintechs precisam se destacar.
Elas fazem isso oferecendo experiências digitais mais intuitivas, decisões rápidas e análises que valorizam o contexto e não apenas um histórico impessoal.
Aprofunde seu conhecimento lendo: O impacto silencioso do crédito negado na sua vida financeira
Como a avaliação funciona na prática

Ao se cadastrar em uma fintech que não exige score, o usuário autoriza o acesso aos seus dados bancários, conforme prevê a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
A plataforma cruza essas informações com parâmetros pré-definidos, como volume de entrada e saída, histórico de inadimplência e uso de serviços financeiros.
Por exemplo, uma pessoa que recebe via carteira digital todos os meses, mesmo sem contracheque, pode ser considerada elegível se mantiver uma relação equilibrada entre gastos e recebimentos.
Esse modelo permite olhar para o futuro (potencial de pagamento), e não apenas para o passado (inadimplência anterior).
Veja na tabela abaixo alguns dos critérios comuns utilizados:
Critério Observado | Por que é relevante |
---|---|
Fluxo de Caixa | Indica estabilidade financeira |
Frequência de recebimentos | Demonstra regularidade de renda |
Tipo de gastos | Identifica padrões de consumo |
Pagamentos recorrentes | Mostra compromisso com contas fixas |
Uso de crédito anterior | Avalia comportamento em empréstimos |
Geolocalização e perfis digitais | Complementam perfil com análises contextuais |
Novos protagonistas: o impacto na vida real
A flexibilização tem mudado trajetórias. Um caso comum é o de Eliane, diarista e mãe de três, que utilizava apps para gerenciar suas diárias e recebia pagamentos constantes por transferências bancárias.
Seu score era considerado baixo devido a uma dívida antiga já quitada. Ao solicitar crédito em uma fintech, teve aprovação baseada em seu comportamento financeiro atual.
O valor emprestado permitiu que ela comprasse equipamentos e montasse uma pequena lavanderia doméstica.
Essas histórias refletem um mercado em transformação. Os clientes não querem apenas serviços, mas compreensão.
E as fintechs oferecem crédito sem consultar o score justamente porque entenderam que comportamento diz mais do que uma pontuação fria.
+ As novas pontuações de crédito que vão além do score tradicional
A regulação protege o consumidor
Muita gente teme que esse novo modelo não seja seguro. Mas todas as operações devem seguir as normas da LGPD e as diretrizes do Banco Central.
O consumidor tem o direito de autorizar, restringir ou cancelar o compartilhamento de dados a qualquer momento.
A Resolução nº 4892 do Banco Central, vigente desde 2022, estabelece normas para o compartilhamento de dados no Open Finance, garantindo sigilo, segurança e rastreabilidade de cada operação.
Dessa forma, não há acesso automático: tudo deve ser autorizado, documentado e reversível.
Entenda como funciona o Open Finance no site oficial do Banco Central.
Fintechs que já usam esse modelo
Várias empresas já operam com análise de crédito sem foco exclusivo no score. Entre elas estão Nubank, C6 Bank, Creditas, Mercado Pago, PicPay e Neon.
Embora algumas utilizem o score como referência secundária, nenhuma delas condiciona o acesso apenas à pontuação tradicional.
O Nubank, por exemplo, utiliza um sistema de aumento progressivo de limite baseado no uso consciente e regularidade de pagamentos.
Já a Creditas combina dados de garantias reais com comportamento financeiro, enquanto o Mercado Pago foca em movimentação dentro da plataforma.
Riscos e responsabilidades do novo modelo
Apesar das vantagens, o modelo não é isento de desafios. A ausência de padronização pode gerar critérios subjetivos.
Por isso, as fintechs devem garantir transparência nos motivos de aprovação ou reprovação, e investir em educação financeira.
Outro ponto essencial é a ética na análise de dados. Informar o consumidor sobre quais dados estão sendo utilizados e para qual finalidade é mais do que obrigação legal: é estratégia de fidelização.
A responsabilidade também é do consumidor, que deve conhecer os termos da oferta, planejar os pagamentos e evitar endividamentos.
Por isso, várias fintechs disponibilizam simuladores, dicas de organização financeira e canais educativos integrados à experiência do usuário.
Conclusão
A escolha de muitas fintechs por conceder crédito sem consultar o score representa uma revolução silenciosa no mercado financeiro.
Ao apostar em dados mais humanos, elas ampliam o acesso, reduzem desigualdades e constroem relações mais sólidas com os clientes.
Em um mundo conectado e digital, essa abordagem não é apenas moderna — é necessária.
O score não precisa ser abandonado, mas sim contextualizado. A verdadeira análise de risco leva em conta o hoje e o potencial do amanhã.
E é por isso que tantas fintechs oferecem crédito sem consultar o score e seguirão fazendo isso com ainda mais assertividade.
Dúvidas Frequentes
1. O que é considerado na análise dessas fintechs?
Critérios como movimentação bancária, constância de renda e histórico de pagamentos em apps ou carteiras digitais são considerados.
2. Não usar o score é legal?
Sim. Desde que a fintech esteja registrada no Banco Central e atue conforme a LGPD, a prática é legal e segura.
3. Isso significa que qualquer pessoa consegue crédito?
Não. A concessão ainda depende de análise de risco, mas é feita com base em dados mais atuais e abrangentes.
4. Posso saber por que fui recusado?
Sim. As fintechs devem explicar o motivo da negativa de forma clara e acessível ao consumidor.
5. E se eu quiser cancelar o acesso aos meus dados?
Você pode revogar a autorização a qualquer momento, conforme prevê a LGPD.