Como o aumento das compras internacionais influencia o varejo nacional

O aumento das compras internacionais influencia o varejo nacional silenciosamente, mas profundamente transformadora.
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O que antes era uma alternativa pontual, hoje se consolida como um novo hábito de consumo entre milhões de brasileiros.
A facilidade de acesso a plataformas estrangeiras e os preços altamente competitivos estão redesenhando o cenário comercial do país — com impactos que vão muito além do simples ato de comprar online.
Sumário:
- Introdução ao novo cenário do varejo
- O comportamento do consumidor brasileiro em 2025
- Impactos diretos e indiretos sobre o varejo nacional
- Desafios fiscais e logísticos no ecossistema local
- As estratégias de adaptação do comércio nacional
- O papel da tecnologia e da experiência na fidelização
- Tendências para o futuro do consumo e do varejo
- Dúvidas frequentes
A revolução silenciosa do consumo global
Nunca foi tão fácil comprar um produto do outro lado do mundo quanto agora.
O crescimento das compras internacionais é alimentado por plataformas como AliExpress, Shein e Shopee, que oferecem preços agressivos e uma jornada de compra otimizada — mesmo com a espera de até 30 dias para o recebimento do item.
Em 2024, o volume de encomendas internacionais cresceu 57%, segundo dados da Receita Federal.
A tendência permanece em alta neste ano, e o movimento já não é mais exceção: é comportamento consolidado.
Um tênis de marca genérica por R$ 150, vindo da Ásia, pode custar metade do preço de um nacional com características semelhantes.
Esse tipo de escolha, multiplicada por milhões de consumidores, redefine o papel do comércio local.
E não se trata apenas de produtos mais baratos. A variedade, a estética diferenciada e a possibilidade de escapar da padronização das prateleiras físicas contribuem para o apelo dessas compras.
O consumidor moderno deseja liberdade, e a internet globalizou suas escolhas.
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O consumidor brasileiro: exigente, digital e pragmático

Em 2025, não basta vender — é preciso convencer. O novo consumidor é informado, compara preços em tempo real, lê avaliações de outros países e exige experiências mais significativas.
Essa nova mentalidade tem pressionado o comércio local a rever práticas de décadas.
Uma pesquisa da Ebit|Nielsen publicada em março de 2025 mostrou que 74% dos brasileiros entre 18 e 34 anos já fizeram ao menos uma compra internacional nos últimos 6 meses.
Mais da metade afirmou que o preço foi o principal motivador, mas 36% citaram também o “design exclusivo” como fator relevante.
Essa mudança de hábito traz uma consequência direta: o aumento das compras internacionais influencia o varejo nacional ao diluir a fidelidade dos consumidores.
Se o mesmo público que antes frequentava lojas de bairro ou shoppings agora compra diretamente da China, é porque o sentimento de pertencimento à marca ou ao comércio local está enfraquecido — ou, pior, foi negligenciado.
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Como o comércio brasileiro sente os impactos
Os efeitos dessa internacionalização do consumo são nítidos. Para o varejo físico, especialmente em regiões periféricas ou com pouca presença digital, o impacto é devastador.
Já para o comércio digital nacional, o desafio é se manter competitivo em um ambiente onde o concorrente opera com custos de produção e tributação muito inferiores.
Segundo o Sebrae, 25% dos microempreendedores relataram quedas acima de 30% no faturamento desde o segundo semestre de 2024.
As categorias mais afetadas? Vestuário, eletrônicos, artigos para casa e cosméticos — exatamente os produtos mais comprados em sites internacionais.
E o desafio não para por aí. A competição afeta também o tempo de reposição de estoque, a precificação e até a relação com fornecedores.
Muitos lojistas têm reduzido variedade de produtos ou investido em categorias de nicho para tentar sobreviver.
Nesse contexto, é inevitável afirmar: o aumento das compras internacionais influencia o varejo nacional ao redesenhar completamente as regras do jogo.
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Burocracias e tributos: o campo de batalha invisível
A guerra não é apenas de preços. Ela se trava também no campo da legislação.
O governo brasileiro, em 2024, lançou o programa Remessa Conforme, obrigando marketplaces estrangeiros a recolherem o ICMS nas compras de até US$ 50, antes isentas.
A proposta visava proteger o mercado interno, mas o efeito foi limitado. Dados da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) mostraram que, mesmo com o imposto, o preço médio de produtos internacionais ainda é até 45% menor.
Isso acontece porque os custos de produção e a escala industrial de países asiáticos são muito mais baixos.
Além disso, muitos consumidores sequer percebem a cobrança do imposto, já embutido no preço. A sensação de vantagem continua.
Essa discrepância evidencia uma fragilidade estrutural: o custo Brasil. Enquanto empresários locais enfrentam tributos múltiplos, burocracia trabalhista e logística ineficiente, as grandes plataformas internacionais operam com agilidade, simplicidade e incentivos fiscais em seus países de origem.
Reinventar-se é resistir
Se não é possível vencer pelo preço, a solução está em conquistar pelo valor. Algumas marcas brasileiras têm feito isso com criatividade e autenticidade.
A Liv Up, por exemplo, transformou seu modelo de negócios ao conectar o consumidor à origem dos ingredientes, destacando a rastreabilidade e o impacto positivo da produção local.
A Imaginarium apostou na originalidade dos seus produtos, com campanhas que valorizam o design nacional e o consumo consciente.
Outro caso interessante é o da Papel Craft, que se reinventou ao unir loja física e e-commerce de forma harmônica, promovendo eventos presenciais com artistas independentes.
Assim, a marca deixou de vender papelaria e passou a vender estilo de vida.
Essas empresas entendem que o aumento das compras internacionais influencia o varejo nacional, mas que também pode ser um gatilho de inovação.
A diferenciação se tornou a principal arma para sobreviver nesse novo mercado.
A tecnologia como aliada da experiência
Em um cenário em que o consumidor é bombardeado por ofertas, a experiência tornou-se a nova moeda. Quem vende, precisa encantar — e isso exige tecnologia.
Ferramentas de inteligência artificial, como recomendadores de produto e chatbots personalizados, vêm sendo adotadas por empresas de médio porte para otimizar a jornada do cliente.
Plataformas como a VTEX ou Shopify têm democratizado o acesso a funcionalidades antes exclusivas dos grandes players.
Além disso, o uso de realidade aumentada, vídeos interativos e estratégias omnichannel ajudam a criar uma conexão emocional que o e-commerce internacional não entrega.
É nesse espaço que o varejo nacional pode (e deve) se destacar.
Para onde caminhamos?
O consumidor do futuro será ainda mais exigente e consciente. Se o preço é hoje o fator decisivo, em breve o impacto social, ambiental e emocional ganhará peso na balança.
Tendências como o consumo local, o slow fashion, a economia circular e o comércio justo estão crescendo — impulsionadas principalmente pelas novas gerações.
Isso abre espaço para marcas que querem mais do que sobreviver: querem pertencer.
O varejo brasileiro precisa encontrar sua voz. Em vez de tentar competir com os gigantes do Oriente, deve olhar para o próprio território e perguntar: qual o meu diferencial? O que me torna único?
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Dúvidas Frequentes
1. O consumidor será penalizado por comprar em sites internacionais?
Não necessariamente. A maioria das plataformas já embute os tributos, e a experiência de compra ainda é positiva. Mas o impacto no comércio local é uma realidade.
2. O que o varejo nacional pode fazer para competir?
Investir em experiência, personalização, propósito e valor. O diferencial não está no preço, mas na conexão com o cliente.
3. As novas regras de tributação reduziram as compras internacionais?
Não de forma significativa. Mesmo com ICMS, os preços continuam mais atraentes em muitas categorias.
4. Vale a pena investir em e-commerce nacional?
Sim. O consumidor brasileiro ainda valoriza marcas que entregam confiança, agilidade e propósito. A digitalização é essencial.
5. Quais setores são mais impactados pelas compras internacionais?
Moda, eletrônicos, cosméticos, brinquedos e acessórios. Produtos pequenos e leves são os mais visados, pois o frete é barato e o risco de taxação é menor.
Reflexão final: o aumento das compras internacionais influencia o varejo nacional, sim.
Mas também o desafia a se reinventar, inovar e reencontrar o valor perdido na relação com o consumidor.
Em um mundo onde tudo é possível com um clique, a diferença está naquilo que só você pode oferecer.